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4 poemas de Patricia Laura figueiredo

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Ilustração: Alejandra Castaño



sobre o difícil exercício do q acontece depois do livro escrito ou a grande guerra


não sei falar dele assim como não sei
falar de veneza ou falar do amor
sei o q ele é

o q representa e como ama
sei como ele pratica essa sina
sei como luta como ri e como alcança

como conquista cada poema e como termina
sei q me pede pra ler em voz alta
o poema inda quente e sujo

do estranhamento da emoção
q minha voz experimenta
do ar q desaparece e como minha voz muda

quando me perco na quebra do poema
sei como ele exulta
sei de todo esse trabalho insano

do cansaço da dor
sei do começo jamais saberei o fim
sei da solidão e dos fantasmas

sei das peles mortas
pra nada pra nada
sei da alegria

sei dessa inaptidão pra tudo q é depois
uma vez o poema vivo lá fora
falado




*
incinerado
em segredo
sem amigos
em lugar
desconhecido

sem família
sem cerimonia
sem publico
sem privé

a morte reinventada
parte imensa calada
queima sem alarde
sem brasa

o amor nunca precisou
de terra nem de fogo
nem de olhos ou choro

o amor
pó enraizado
esfumaçado em canto e mãos
de lazaro
cobriu as pálpebras
e se transformou



*
mesmo alimentando os loucos
sempre espero o outro lado da história
nem ouço uma só versão
escondo cadáveres no armário
digo que a arma era minha
até ir junto pra prisão
nem me desespero nem choro
só não mais acredito
duvido do que sempre volta
insiste à minha porta
fazendo a mesma manobra
"eu te amo” sem nunca perguntar pelo frio
quanto mais soco na boca do estômago
mais vou me deixar cair por q não reajo
e por continuarem eu vomito
qd o coração esta quebrado
peço ajuda  a quem o partiu




*
pensei q fosse amor
a implicância a distância
a impaciência o silêncio
pensei q fosse falta

me fechar a porta
me deixar lá fora
não olhar não chamar
pensei q fosse ciúme

não perguntar sobre a casa
os amores a estrada
porque nenhuma palavra
talvez não fosse preocupação

não aceitar nenhum riso
um passeio um desejo de nada
não dividir nem uma escolha
sem tempo pra nada nada

pensei que tanto silêncio
fosse porque a vida é agitada
duro labor o de aprender a viver
jamais conquistado

pensei que o cheiro do pão
amassado no pacto
a cada dia reinventado
fosse o único elo

pensei que o sangue doado
era o do gesto calado
o silêncio sagrado
linhas e linhas a viver

pensei e esqueci
deixo por aqui e por ali
o forno quente
o pão pronto preparado

o chão limpo
fronhas lavadas
o álcool a lavanda e o talco
no silêncio habitado

ensaiados todos os gestos
na voz emudecida
presentes espalhados
que sozinha escolhi

precisar deles
mais do que eles
precisam de mim
enfim entendi



Patricia Laura Figueiredo, entre São Paulo, onde nasceu e se dedicou à poesia e ao teatro desde cedo, e Paris, onde mora desde 1990, amadureceu seus poemas numa vida dedicada a tornar o poema uma experiência essencial. Publicou o seu primeiro livro de poesias, Poemas sem nome pela editora Ibis Libris e seu segundo No Ritmo da Agulhas, em março de 2015 pela editora Patuá. Participou de várias antologias, no Brasil e na Alemanha e também em diversas revistas digitais de literatura e poesia. Acaba de publicar, pela Editora Dasch seu terceiro livre de poèmes  poemass bebês .. 




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