deus tem sede de nós
eu sinto
eu vejo.
deus sangra os passos da dúvida
adestra campos minados
eletrocuta a linguagem
diz o nosso nome
quando afundamos o corpo no mar
estende os dedos escorregadios
com eles construímos jangadas
atravessamos a noite
despojamos o tempo.
seus cabelos rasgam a pele da morte.
deus:
onda batendo nos cascos da barca
farol escondido na névoa
luz bruxuleando distante.
há uma enxada encostada no tempo
um canteiro rachado
uma flor galgando os degraus na alma
uma voz sumindo no silêncio.
sou o exílio da noite
a casa vazia
o quarto onde deus se inclina
adormece a solidão.
na rua que atravessa o coração
deus brinca com bolinhas de gude
dança ciranda
joga amarelinha...
deus:
cidade despovoada
asilo para o cansaço
garça despontando no sorriso
deus tem asas feridas
remendadas com o pano da terra.
*palavra: Sandrio Cândido
*imagem: Svetla Koseva