Pequenos pedaços afogados na areia
São pequenas as coisas
Vistas daqui
Pequena metafísica
No grão de areia
Lembrança de um verão
De 1990 e qualquer coisa
Refletida no mar
Pequeno castelo
Com túnel e torres
Rio crocodilos sentinelas
São tampinhas
Boiando na areia
Meu tio-avô que me ensinou
Os jingles dos bondinhos
São tão pequenas mesmo as coisas
Quando a gente para pra ver
Lá vem a maré e leva
Tudo o que nos resta
São pequenos pedaços
Afogados na areia.
Pingo
Eu queria qualquer dia
Escalar os pingos
Chegar aos olhos da chuva.
Todo mundo que conheço acaba indo embora no fim
O copo que se espatifa no chão
Cai sem nem antes avisar
Todo mundo que conheço
Acaba indo embora no fim
Sem se despedir
Foi-se o tempo
De todos os bares que bebemos
Vivem de cabeça pra baixo
Os copos que sobraram
Luto no escorredor
O balcão empoeirado
Copos e mundos virados
O pouco que conheço
Esvai-se de mim
Todo mundo que conheço
Acaba indo embora no fim.
Una
À uma, te espero
Na escada
Há uma eternidade
Concretizada nas ondas
Dos degraus
Minha espera inerte
E uma pressa uniforme
De sapatos e chinelos
Vão-se os trens
Laçar a periferia.
Imagem: arte de Costanza Nightingale
* * *
Gustavo Lacerda nasceu em Porto Alegre. É escritor e fundador da Vendo-me Editora, editora independente de arte e literatura sediada em São Paulo.