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Ilustração: Leeorah Hursky – Fusion |
TIROS NA ESQUINA
madrugada, ano que finda e
um sabor de tumulto
tiros na esquina
em vaga luz remanescente
o filtro silencioso
do tempo
seu túnel de fugas e favas
acasos de temperança e fulgor
é o silêncio sem inocentes
manchetes na noite
NEWS
Globo divaga suas manchas negras
de fábulas fabricadas de benefícios
esquivo a espera e descuido
meu cordão de impedimentos
quase salva
estou crua de tempo
esquecida de outros vales de lágrimas
espumando espumante e uvas
amêndoas e dores
repenso meus manuais
e lembro na calçada os pés
ásperos
do mendigo
sua mandinga de salvação
ainda darei três voltas em um parque
deixarei que escorra outro ano
no centro da cidade as ruas desertas
a lamparina sem estrelas
nenhum movimento
ausência de interrogações
na noite que caminha
sexta sábado e seguinte
há lágrimas em teus olhos....
Jandira Zanchi
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Ilustração:Alejandro Obregón |
O TROCO
(sensibilizado por um poema de Jandira Zanchi)
encho o meu carrinho de alimentos perecíveis
e livros virtuais que guardarei plastificados
como posfácio
lembro do Mesmo na casca semântica deste dia
cinza
não quero ser identificado pelas etiquetas
mas aí está a minha cesta de escolhas escassas
e poucas metáforas
para o poema que devo dedicar à caixa do supermercado
devo falar em linguagem simbólica ou cifrada
para não ofendê-la
ela vai rir como uma etiqueta, ela vai dar meu troco
incerto
e nada digo
não posso deixar a vida ainda mais parca
por questão de centavos
não quero parecer o machão, o poeta ou o panaca
consolo-me com a lembrança de um poema de Jandira Zanchi
tiros na esquina
mas continuo sem saber como reagir ao assalto
sequer se devo reagir ou apenas seguir em frente
preparo-me para fazer outra leitura
dos tiros na esquina
vou me deslocando sem estacionamentos
com medo de perder sem dar o troco
topo com um cara similar
mas não sei se eu sou o produto verdadeiro
um de nós deve restituir a vida do outro
deve haver algum acordo, alguma coisa a ser
simplesmente
dita
antes que entremos
em pânico
e livros virtuais que guardarei plastificados
como posfácio
lembro do Mesmo na casca semântica deste dia
cinza
não quero ser identificado pelas etiquetas
mas aí está a minha cesta de escolhas escassas
e poucas metáforas
para o poema que devo dedicar à caixa do supermercado
devo falar em linguagem simbólica ou cifrada
para não ofendê-la
ela vai rir como uma etiqueta, ela vai dar meu troco
incerto
e nada digo
não posso deixar a vida ainda mais parca
por questão de centavos
não quero parecer o machão, o poeta ou o panaca
consolo-me com a lembrança de um poema de Jandira Zanchi
tiros na esquina
mas continuo sem saber como reagir ao assalto
sequer se devo reagir ou apenas seguir em frente
preparo-me para fazer outra leitura
dos tiros na esquina
vou me deslocando sem estacionamentos
com medo de perder sem dar o troco
topo com um cara similar
mas não sei se eu sou o produto verdadeiro
um de nós deve restituir a vida do outro
deve haver algum acordo, alguma coisa a ser
simplesmente
dita
antes que entremos
em pânico
Antonio Aílton dos Santos
Jandira Zanchi é poeta e ficcionista. Atuou no magistério no ensino de matemática e física em faculdades, colégios e cursos. No final dos anos 80 foi professora cooperante na Universidade Agostinho Neto - Faculdade de Ciências, Luanda - Angola. Em Curitiba por cerca de dez anos esteve na FAE - Bussiness School. Como poeta publicou Gume de Gueixa (Editora Patuá, 2013), Balão de Ensaio (Editora Protexto, 2007) e o livro virtual A Janela dois Ventos (Emooby, 2012). Tem lançamento para breve de Área de Corte com a Editora Patuá. Integra o conselho editorial de mallarmargens revista de poesia e arte contemporânea
Poeta, professor e pesquisador, Antonio Aílton cursa Doutorado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco, com estudo sobre poesia contemporânea. Foi vencedor do Prêmio Literário Cidade do Recife – Poesia, em 2006, com o livro Os dias perambulados & outros tortos girassóis (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008). Publicou ainda os livros As Habitações do Minotauro (poesia), Humanologia do eterno empenho (ensaio), que também foram premiados no “Concurso Cidade de São Luís”. Tem participação em antologias locais e nacionais e na Revista Poesia Sempre (2008).Neste ano (2015), seu livro Compulsão Agridoce foi publicado pela Paco Editorial/SP. Integra os meios culturais e literários de São Luís – MA e colabora no Suplemento Cultural &Literário JP Guesa Errante.