ninando o sobressalto
iminente mais um
carinho à derrota
segunda a pizza
é mais barata
aproveito para sair
do comum brutal
da macarronada de
ontem meu time
perdeu hoje eu
como uma de
catupiry com frango
vendo o datena
menina de 5anos
é estuprada pelo
pai que confessou
a barbárie sonha
maldades com barbie
rosa cabelos cacheadinhos
escondeu-se sob o
sofá para nunca
mais deixo o
último pedaço de
pizza para ela
para de assistir
você não tem
idade para isso
comecei a guardar
dinheiro encontrado com
o pai era
da madrasta que
não quis prestar
esclarecimento das idéias
depois da janta
agora é só
VAI DORMIR PORRA!
começo do mês
entrei numa treta
nem sei porque
me quebraram o
maxilar apaguei diante
de tantos pés
por enquanto é
desejar que nasça
uma laranja de
pus entre o
sexo e o
cu de cada
loki-burocrata deste desastre
chamado planeta terra
quantas fraldas são
necessárias para usar
num humano durante
quatro anos me
vi fugindo do
céu sempre covarde
crivado de bala
e compondo grafites
em nuvens sujas
minhas mãos estão
cansei do arrego
diário de boçal
podia ser ela
alguns dizem com
certeza são armas
em minhas mãos
não vou esperar
mais porra nenhuma
vou me defender
resguardar o corpinho
dentro da esposa
um futuro menos
CUZÃO! um já
foi na testa
certeiro treino pelo
google earth alguém
viu meu olhar
nos olhos do
morto nem percebeu
quero cinco pó
esfaqueei da barriga
ao peito sujo
de sangue nas
mãos conto dois
tem mais bala
em minhas bolas
do que no
seu tambor VACILÃO!
atiro em mim
só três vezes
tem barata que
empurra a tampa
do ralo e
se dá bem
te vi nos
filmes anos oitenta
era só para
controlar meu ódio
aquele papo de
que feio também
fode não fica
tranquilo que eu
vou te SUBIR!
na rua ando
até a casa
onde a MERDA!
meu tênis novinho
manchado de sangue
(blue suede shoes)
sinal fechou nem
me viram vigiando
a vaga que
estacionaram o carro
da polícia acabou
de passar cheio
de párias fardados
em busca de
um troco eu
só estou dando
sede cerveja ou
café na padaria
para me ligar
matar de vez
escurecer de vez
para depois sozinho
contra o mundo
ensolarar daqui poucos
segundos é fugir
no krav maga
começo o ano
com seis pinos
no rosto da
minha filha um
sol de ácido
ainda sinto cheiro
de ontem pesadelos
de dia eles
gostam de tomar
meu rumo agora
saltar finalmente da
embalagem de margarina
que sempre foi
essa laje pintada
de verde-abacate espero
ter mirado bem
no maldito cachorro
que me acorda
embaixo nem um
flash! filtro! travelling!
papai nunca mais
vai fazer carinho
em você filha
Santo André, 01/12/2014
Mateus Novaes , autor do livro de poemas Desistência ( Editora Patuá, 2012) e da plaquete TRETA – poema-single( Ave de Rapina, 2015). Nasceu no dia 23 de abril de 1981 na cidade de Santo André. A poesia e outras drogas o acompanham desde a adolescência, quando os primeiros versos surgiram cedo dentro do tumulto colegial (as garotas arredias e bandas de rock alternativo). Não vota há muito tempo e não se sente confortável diante de obrigações. É vocalista da banda Krias de Kafka. Bebe, fuma e é pai da Alice e do Bernardo.