![]() |
Ilustração: Menoevil |
vida
não sobreviverei a este porre
Por entre parêntesis
Abro este parêntesis
para tomar fôlego
Contemplar o prazer sufocado
esse desejo inextinguível
inigualável
irrealizável
Abro este parêntesis
como se a penetrasse
como se gozasse em ti
derramasse tudo a quilo
a fundo
(Entre parêntesis,
escuto o barulho do mundo)
para tomar fôlego
Contemplar o prazer sufocado
esse desejo inextinguível
inigualável
irrealizável
Abro este parêntesis
como se a penetrasse
como se gozasse em ti
derramasse tudo a quilo
a fundo
(Entre parêntesis,
escuto o barulho do mundo)
10 pílulas para dormir
meu gato
se envolveu com a gata
aqui do condomínio
outro dia
tomou 10 pílulas pra dormir
acordei
com uma sensação de déjà vu
![]() |
Ilustração: Meneovil |
Só mais um lamento
Mais uma forma de manipulação
sem sangramento
Mais uma reforma de deputados
maquiavélicos (a)
Mais um anúncio na porta de bar
de cervejas com bico super anatômico
Mais anestesias que de par em par
mexem com a gente
Mais um aborto
consentido
Mais dores para vingar
meu osso duro e partido
...e ainda tropeço na lava quente
que cozinham na loja de capital
Mais uma paixão ardente
–
sem amor
Mais um amor incoerente
–
sem paixão
Mais uma vez o desejo inocente
de publicar as verdades sobre a tecnologia nuclear
(ou molecular)
mais uma vez nos tabloides
as mesmas ladainhas
mais uma vez na novela
as mesmas mentirinhas
(mal contadas)
mais uma vez
os versos mal cortados
e as mulheres cheias de dores
mal cortejadas
se afogando no absinto
...nem tudo o que é abstrato
passo pra tela
por hoje, é tudo que sinto
o cofre escuro
a fábula do cofre
é manter-se vazio
A Arte de Salvar o Silêncio
A arte de salvar –
– o Silêncio
é inaudível –
e deve ser terrível
o fato de não podermos
falar sobre o silêncio
–
Salivar a interrupção do som
perdoar a ausência
renunciar o prazo
antes do limite do agora.
Abandonar o sinônimo
o redemoinho do sonho
Pausa
Cale-me
Calejei-me ao diagnosticar
o parto antes da concepção
O silêncio não se salva
se faz nascendo
suspenso a todo momento
[sem título]
morreu atravessado
por uma rua de paris
Poemas de parapeito (Editora Patuá, 2013)
Caio Garrido é escritor, psicanalista, editor geral da Revista Tavola Magazine, e colaborador de outras revistas. Atua também como coordenador de um Depto. de Literatura e Redação. Coordena ainda a Formação em Psicanálise pelo Núcleo Tavola na cidade de São Paulo. Natural de São Caetano do Sul e residente em Ribeirão Preto, é autor do livro de poemas parapeito (Ed. Patuá, 2013), do romance Pena que foi Ontem (2010) e Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão (2011), estes dois últimos, edições do autor.