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7 poemas de Caio Garrido

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Ilustração: Menoevil


vida

não sobreviverei a este porre



Por entre parêntesis

Abro este parêntesis
para tomar fôlego
Contemplar o prazer sufocado
esse desejo inextinguível
inigualável
irrealizável

Abro este parêntesis
como se a penetrasse
como se gozasse em ti

derramasse tudo a quilo
                          a fundo

(Entre parêntesis,
escuto o barulho do mundo)



10 pílulas para dormir

meu gato
se envolveu com a gata
aqui do condomínio

outro dia
tomou 10 pílulas pra dormir

acordei
com uma sensação de déjà vu



Ilustração: Meneovil


Só mais um lamento

Mais uma forma de manipulação
sem sangramento

Mais uma reforma de deputados
maquiavélicos (a)

Mais um anúncio na porta de bar
de cervejas com bico super anatômico

Mais anestesias que de par em par
mexem com a gente

Mais um aborto
consentido

Mais dores para vingar
meu osso duro e partido

...e ainda tropeço na lava quente
que cozinham na loja de capital

Mais uma paixão ardente
 –
sem amor

Mais um amor incoerente
sem paixão

Mais uma vez o desejo inocente
de publicar as verdades sobre a tecnologia nuclear
(ou molecular)

mais uma vez nos tabloides
as mesmas ladainhas

mais uma vez na novela
as mesmas mentirinhas
(mal contadas)

mais uma vez
os versos mal cortados

e as mulheres cheias de dores
mal cortejadas
se afogando no absinto

...nem tudo o que é abstrato
passo pra tela
por hoje, é tudo que sinto



o cofre escuro

a fábula do cofre
é manter-se vazio



A Arte de Salvar o Silêncio

A arte de salvar –
 – o Silêncio

 é inaudível –

e deve ser terrível
o fato de não podermos
falar sobre o silêncio

Salivar a interrupção do som
perdoar a ausência
renunciar o prazo
antes do limite do agora.
Abandonar o sinônimo
o redemoinho do sonho

Pausa

Cale-me

Calejei-me ao diagnosticar
o parto antes da concepção

O silêncio não se salva
se faz nascendo
suspenso a todo momento



[sem título]

morreu atravessado
por uma rua de paris


Poemas de parapeito (Editora Patuá, 2013)




Caio Garrido é escritor, psicanalista, editor geral da Revista Tavola Magazine, e colaborador de outras revistas. Atua também como coordenador de um Depto. de Literatura e Redação. Coordena ainda a Formação em Psicanálise pelo Núcleo Tavola na cidade de São Paulo. Natural de São Caetano do Sul e residente em Ribeirão Preto, é autor do livro de poemas parapeito (Ed. Patuá, 2013), do romance Pena que foi Ontem (2010) e Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão (2011), estes dois últimos, edições do autor.

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