Chorar um pátio com jardim para um deus dançar
Estas são lágrimas puras
– pólen metafísico –
A ajardinar a alma
Estas são dores sublimadas
- cimento curativo –
A construir este pátio
Dentro deste lugar
- pátio cercado por jardim -
Os deuses dançam
E os deuses sentem falta
De gente/pátio ajardinado
Os deuses não nos querem
- cripta entristecida e acorrentada -
Só chão com textura de pétala
Para rodopios e êxtases eternizados
Eu quero chorar
Até nascer dentro de mim
Um pátio com jardim
Para um deus dançar...
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Luz laica do sol
Baila no pó:
Estrada de Li Po
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Telegrama à beira do precipício
abraspas deus é uma lâmina que ama entrar em mim fechaspas
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A vida é uma dramaturga bêbada.
A vida é bipolar, com seu enredo metade Shakespeare; metade Sarah Kane.
Ainda assim a vida me encanta, sempre!
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Nenhum tempo foi mais propício para o desespero
Tempo do caos e da decadência
Vivemos engolindo empáfias e arremedos
Quando alguém rasga uma nesga de humanidade terna
Você quer sugar esta veia
Comer pelas bordas a pessoa inteira
Guardá-la em ti de todas as maneiras
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Imagem: Coreto – Aquarela de Fábio Moon
Bárbara Lia nasceu em Assai (PR). Publicou: O sorriso de Leonardo (Kafka), O sal das rosas (Lumme), A última chuva (ME), Solidão Calcinada (Imprensa Oficial do PR) e Respirar (Ed. do autor), entre outros. Integra várias Antologias, entre elas: O Melhor da Festa 3 (Festipoa), Amar - Verbo Atemporal (Rocco), A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua (Maputo). Destaque em vários Prêmios, entre eles: SESC, Helena Kolody, Cataratas, UFES e Prémio Fundação Eça de Queiroz (Portugal).