/Helena Figueiredo/
"Antes de estarem nos livros, nos quadros, nos filmes,
as palavras estiveram alojadas no nosso corpo,
circularam ocultas em outras dimensões e linguagens."
José Tolentino Mendonça
hoje que o ócio me possui
abro o caderno
sou um espinho
um pulso decepado
e nada impedirá que a tinta jorre
e se derrame livre
entre as linhas claras
e não sou eu quem dita
sobre mim desceu
um raio fulminante
a hora prenhe
e as palavras ardem
em tons prata
golfadas, que de outro modo
seriam sangue apenas
sem que dele conhecêssemos a cor
o poema é assim
este ato tresloucado
acontecendo
ao tocar de um sino
num simples afago
sempre que um nó cego
nos esgana a garganta.
Pintura de Iman Maleki