![]() |
Lançamento nacional será realizado dia 09/06 (terça-feira), a partir das 19h no Bar Canto Madalena - Rua Medeiros de Albuquerque, 471 - São Paulo – SP |
Pig Brother e Até nenhum lugar, os dois novos livros de Ademir Assunção, em lançamento da Editora Patuá, são universos poéticos opostos e complementares.
Pig Brother, poema longo, narrativo, dividido em 7 círculos e 66 cantos, apresenta um mundo em ruínas, povoado por personagens barra-pesadas, que se movimentam num cenário marcado pela brutalidade e pela falta de sentido, descrito com imagens aterradoras. Uma distopia trash metal. Uma viagem xamânica. Uma descida aos infernos contemporâneos.
Até nenhum lugar, com poemas curtos escritos ao longo dos últimos 30 anos, apresenta percepções marcadas pelo zen budismo e por viagens a diversas cidades, serras e praias do Brasil. “Um livro feito de filigranas finamente entrelaçadas umas nas outras. Peças de diminuta e minuciosa ourivesaria”, nas palavras do crítico Amador Ribeiro Neto.
O caráter antagônico e complementar dos dois livros, trabalhados ao longo de anos por Ademir Assunção, é representado nas capas criadas por Leonardo Mathias, cada uma formando a metade de uma figura que se completa quando colocadas lado a lado.
Juntos, os dois volumes esticam a corda tensa e, ao mesmo tempo evanescente, que vem se desenrolando em toda a poesia de Ademir Assunção. Depois de A Voz do Ventríloquo, ganhador do Prêmio Jabuti de 2013, o poeta retorna a cena com este duplo lançamento, apontando novos caminhos em sua linguagem poética.
chuva no telhado
água escorrendo na calha
cinza de cigarro
praia brava, 19.01.2008
casulo na neblina
fina teia azulada
primeiro e último
voo
da borboleta
filme mudo
praia brava, 15.04.1994
AS RUAS ESTÃO ESTRANHAS ESTA NOITE
Pétalas destroçadas tingem a noite de vermelho.
Mister Morfina se arrasta pelas ruas,
os bolsos cheios de câmaras de ar furadas,
tranqueiras e cacos de vidro.
Peixes coloridos saltam sob a luz dos semáforos.
Uma Rosa cospe um blues na poça das sarjetas.
Um Opala caindo aos pedaços
bate de frente
no Monumento aos Desesperados Anônimos.
O vidro do aquário se estilhaça.
Os peixes fogem montados em motocicletas envenenadas.
Orelhões suicidas gritam palavras obscenas
para velhinhas traficantes.
Mister Morfina acende um cigarro
e observa a palidez de 50 top models
que desfilam descalças
na passarela cheia de cacos de vidro.
Deus está solto.
E dizem que Ele está armado.