Aspecto
Vivo dentro de cuatro paredes matemáticas
Alineadas a metro. Me rodean apáticas
Almillas que no saben ni un ápice siquiera
De esta fiebre azulada que nutre mi quimera.
Gasto una piel postiza que la listo de gris.
(Cuervo que bajo el ala guarda una flor de lis
Me causa cierta risa mi pico fiero y torvo,
Que yo misma me creo para farsa y estorbo.)
Vivo dentro de cuatro paredes matemáticas
Alineadas a metro. Me rodean apáticas
Almillas que no saben ni un ápice siquiera
De esta fiebre azulada que nutre mi quimera.
Gasto una piel postiza que la listo de gris.
(Cuervo que bajo el ala guarda una flor de lis
Me causa cierta risa mi pico fiero y torvo,
Que yo misma me creo para farsa y estorbo.)
Aspecto
Vivo dentro de quatro paredes matemáticas
Alinhadas metricamente. Rodeiam-me apáticas
almazinhas que não sabem um pingo sequer
Desta febre azulada que nutre minha quimera.
Alinhadas metricamente. Rodeiam-me apáticas
almazinhas que não sabem um pingo sequer
Desta febre azulada que nutre minha quimera.
Uso uma pele falsa que listro de gris
(corvo que sob a asa guarda uma flor-de-lis
Provoca-me certo riso o bico feroz e raivoso,
Que eu mesma crio para farsa e estorvo.)
(corvo que sob a asa guarda uma flor-de-lis
Provoca-me certo riso o bico feroz e raivoso,
Que eu mesma crio para farsa e estorvo.)
Dulce Tortura
Polvo de oro en tus manos fue mi melancolía;
Sobre tus manos largas desparramé mi vida;
Mis dulzuras quedaron a tus manos prendidas;
Ahora soy un ánfora de perfumes vacía.
Sobre tus manos largas desparramé mi vida;
Mis dulzuras quedaron a tus manos prendidas;
Ahora soy un ánfora de perfumes vacía.
Cuánta dulce tortura quietamente sufrida,
Cuando, picada el alma de tristeza sombría,
Sabedora de engaños, me pasaba los días
¡Besando las dos manos que me ajaban la vida!
Cuando, picada el alma de tristeza sombría,
Sabedora de engaños, me pasaba los días
¡Besando las dos manos que me ajaban la vida!
Doce tortura
Poeira de ouro em tuas mãos foi minha melancolia;
Em tuas mãos compridas esparramei minha vida;
Minhas doçuras às tuas mãos ficaram presas;
Agora sou uma ânfora de perfumes vazia.
Em tuas mãos compridas esparramei minha vida;
Minhas doçuras às tuas mãos ficaram presas;
Agora sou uma ânfora de perfumes vazia.
Quanta doce tortura quietamente sofrida,
Quando, ferida a alma de tristeza sombria,
Ciente de enganos, eu passava os dias
Beijando as duas mãos que me sugavam a vida!
Quando, ferida a alma de tristeza sombria,
Ciente de enganos, eu passava os dias
Beijando as duas mãos que me sugavam a vida!
Cuadrados y ângulos
Casas enfiladas, casas enfiladas,
Casas enfiladas.
Cuadrados, cuadrados, cuadrados.
Casas enfiladas. Las gentes ya tienen el alma cuadrada,
Ideas en fila
Y ángulo en la espalda.
Yo misma he vertido ayer una lágrima,
Dios mío, cuadrada.
Casas enfiladas.
Cuadrados, cuadrados, cuadrados.
Casas enfiladas. Las gentes ya tienen el alma cuadrada,
Ideas en fila
Y ángulo en la espalda.
Yo misma he vertido ayer una lágrima,
Dios mío, cuadrada.
Quadrados e ângulos
Casas enfileiradas, casas enfileiradas,
Casas enfileiradas.
Quadrados, quadrados, quadrados.
Casas enfileiradas.
O povo já tem a alma quadrada,
Ideias em fila
E ângulo nas costas.
Eu mesma verti ontem uma lágrima,
Meu Deus, quadrada!
Casas enfileiradas.
Quadrados, quadrados, quadrados.
Casas enfileiradas.
O povo já tem a alma quadrada,
Ideias em fila
E ângulo nas costas.
Eu mesma verti ontem uma lágrima,
Meu Deus, quadrada!
Presentimiento
Tengo el presentimiento que he de vivir muy poco.
Esta cabeza mía se parece al crisol,
Purifica y consume.
Pero sin una queja, sin asomo de horror,
Para acabarme quiero que una tarde sin nubes,
Bajo el límpido sol,
Nazca de un gran jazmín una víbora blanca
Que dulce, dulcemente, me pique el corazón.
Esta cabeza mía se parece al crisol,
Purifica y consume.
Pero sin una queja, sin asomo de horror,
Para acabarme quiero que una tarde sin nubes,
Bajo el límpido sol,
Nazca de un gran jazmín una víbora blanca
Que dulce, dulcemente, me pique el corazón.
Pressentimento
Tenho o pressentimento de que viverei pouco.
Esta minha cabeça, semelhante ao crisol,
Purifica e consome.
Mas sem nenhuma queixa, sem nenhum sinal de horror,
Quero para o meu fim que em uma tarde sem nuvens,
Sob o límpido sol,
Nasça de um grande jasmim uma serpente branca
Que doce, docemente, me pique o coração.
Esta minha cabeça, semelhante ao crisol,
Purifica e consome.
Mas sem nenhuma queixa, sem nenhum sinal de horror,
Quero para o meu fim que em uma tarde sem nuvens,
Sob o límpido sol,
Nasça de um grande jasmim uma serpente branca
Que doce, docemente, me pique o coração.
Alfonsina Storni (1892-1938), poeta argentina. É considerada uma das importantes vozes da poesia latino-americana na primeira metade do século XX. Sua obra apresenta traços que vão do modernismo (poemas escritos entre 1916 e 1920) inspirado em Rubén Darío à vanguarda – com a publicação de Ocre, em 1925. Escreveu também prosa, ensaios e peças teatrais. Suicidou-se em 25 de outubro de 1938, lançando-se ao mar – o que inspirou a canção Alfonsina y el mar, gravada por Mercedes Sosa. Os poemas aqui traduzidos, todos originalmente publicados em El dulce daño (1918), integram a obra Entre el largo desierto y la mar, editada pela Fundación Editorial el perro y la rana (Venezuela, 2007).
Vássia Silveira, jornalista e escritora. É autora de Febre Terçã (poesias/2013), Indagações de Ameixas (crônicas/2011); e dos infantis Quem tem medo do Mapinguari? (2008) e Braboletas e Ciuminsetos (2007). Formada em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina. Vive em Florianópolis e escreve o blog Toda Quinta (http://todaquinta.blogspot.com.br).