rinocerontes da ternura
para os amigos ao som de the clash
nós, rinocerontes da ternura
nós, rinocerontes prometidos para a extinção
conhecemos bem os dragões da cidade,
os seus disfarces alcalinos, suas gírias oblíquas...
no nosso hemisfério de dentro navega uma jubarte
que nos salva dos naufrágios e do ataque do serrote.
nós, rinocerontes da última hora
sabemos que todo pecado será abençoado quando feito com amor
sabemos também, que um olho sujo enxerga adiante,
quando dentro da noite vadioso, o que se sente são calafrios.
não somos animais homeopáticos,
conhecemos o padroeiro das rodoviárias e o mal cheiro de sua hospitalidade.
nós, rinocerontes do partido-romântico-libertário
aprendemos sobre a música dos punks,
o delírio dos junks e a formação da classe operária.
testemunhamos partículas de vida metálica
mastigar esquecimentos em um bairro sem nome.
descobrimos que as ruas amadurecem idades-descompassadas
[em sua estufa volátil.
quantos bairros demarcam nossa geografia
na urgência de uma lembrança qualquer?
quem são nossos aliados
nesse jogo secreto de forças invisíveis?
quem dos muitos, com quem bebemos,
serão solidários na derradeira hora?
– sobrevivemos com palavras diferentes
mas nos encontramos no afeto.
Ilustração: Joniel Santos
* * *
Demetrios Galvão é habitante da província de Teresina (PI) é historiador e poeta. Publicou os livros cavalo de tróia (2001), fractais semióticos (2005), insólito (2011), bifurcações (2014). Tem poemas publicados nas antologias massanova literatura (2007), poematologia – os melhores novos poetas do brasil (2012) e em diversos portais e revistas. Atualmente é um dos editores da revista acrobata.