fábula
Gostaria que pudéssemos chamá-lo
um habitat
irrefreável
mas como? Se todo
habitat é
senão
as evidências de sangue
sobre o desenho seco
das pegadas
O tempo desaparecendo
em grandes sorvos as alamedas
perseguindo as escaras
–— Nunca
o espaço mas sim
o momento pontiagudo
onde toda topografia é úmida
e encerra
uma revoada de malícias
Te escrevo para contar:
linguagens
são os humores
de quando existe água
(intempéries não são
envenenamentos?)
Não há mais
escrituras
frestas para envelopes ou
alheamentos
–— nenhum
recinto
onde se derramem
as luzes do golfo as pedras
do belvedere
Sob a superfície do sono
o arame farpado reclama
os rastros das paisagens a memória
de açúcares
tão extravagantes quanto os refúgios
Percal
manhã: maquete
que aninha a dor
inchaços, e não
feixes
o dia rompe
as regras da luz
a casa fareja
os arredores
enquanto o mar
escapa – massa
sanguinolenta
a noite ainda rasga o olho
língua suja
e vacilante
(você prefere
o reino subaquático
ou as batidas
do coração?)
dentro
do corpo um sol
engalanado desliza
puro terror
manhã: nunca água
- óleo
incrustado ao redor