Buceta de subúrbio ornamentando a rua
ela agachou no meio fio e aliviou
indiferente às buzinas
aos cuspes
a todas as latrinas
ela fumava um fino ainda
e tinha um resto de dente
no sorriso
fazia contorcionismo
para ver a fumaça que fugia
da calçada
mijo quente
pedra fria
tanta gente passava
ninguém (h)avia
*
engoli num sebo
toda a literatura
de um só gole
golpe de martelo
estufou
feito sapo bandeira
e nunca mais voltou
pelo gargalo
estocástica
a retícula
prende a página
cega lâmina
cala a palavra
na fala
daquela vez em diante se esqueceram
uma não abriu mais a janela
a outra jogou fora a gilete
da outra vez que se perderam
uma sucumbia distraída
a outra não mascava mais chiclete
e mais uma vez diante uma da outra
lembraram da vida e se renderam
Ato fálico
extraio da tua seiva
memórias de alcatira
sabores de ariticum
Fotos: arte de Melanie Bonajo
* * *
Sandra Santosé poeta, artista plástica e coordenadora do Espaço Cultural Castelinho do Alto da Bronze, em Porto Alegre. Produziu os projetos: “Instante Estante”, que publica e distribui livros de poesia gratuitamente em pontos de leitura e bibliotecas comunitárias; “Código Coletivo”, experiência em QR CODE de poemas visualizáveis em celular; “Álbum de Poesia – Brasil 2014”, seleções de poetas de países que participaram da Copa do Mundo de Futebol. Participa de encontros latino-americanos de poesia.