/ Luís COSTA /
A cadeira ardia na sombra das velhas arcadas
a rapariga morava lá dentro
por vezes a rapariga abandonava a sombra
e a luz das praças mutilava-a com o machado
da perpétua claridade
a rapariga trazia nas mãos a brisa dos
vinhedos e dos antigos cereais e um arco flamejante
quando mexia na terra e a levava à boca
as suas mãos transformavam-se em asas
outras vezes eram belas tesouras cantantes
era então que no negro fundo dos seus olhos
se acendia a beleza dos amplos jardins
mas nas suas entranhas já relinchava um
massacre silencioso
a rapariga ainda não conhecia a ciência dos
nomes mas já pressentia ... sim já pressentia
a expansão do massacre abrindo-lhe as veias
como uma estaca jubilosa
In: Topografia abissal
Imagem de Giorgio de Chirico
