Os Anjos
que são poetas mortos
carbono, comida pra bicho
o breu em que vivem
a própria terra infecunda
pó pedra dejetos de arte
que não são poetas mortos
esterco letrado de árvores
pensamento verde
lavouras poéticas
carvalhos frondosos
soletrando poesias
palmo a palmo no chão preto
que são poetas mortos
carbono, comida pra bicho
o breu em que vivem
a própria terra infecunda
pó pedra dejetos de arte
que não são poetas mortos
esterco letrado de árvores
pensamento verde
lavouras poéticas
carvalhos frondosos
soletrando poesias
palmo a palmo no chão preto
***
Higgs
Minúsculo deus
Filho, pai eespírito
Do Nada
Da colisão irreversível
Fez-se pão, vinho
Massa
Fez-se Deus
Corpo da mesma
Matéria do mais
Remoto Eu
Melancólica Molécula
Seus filhos paridos
sem pai
Um dia que já não bastava
ser-se
Adão, sentindo-se só
Criou Deus.
Filho, pai e
Do Nada
Da colisão irreversível
Fez-se pão, vinho
Massa
Fez-se Deus
Corpo da mesma
Matéria do mais
Remoto Eu
Melancólica Molécula
Seus filhos paridos
sem pai
Um dia que já não bastava
ser-se
Adão, sentindo-se só
Criou Deus.
***
Casta
É de estirpe todo o adorno com que saem os verbos.
Vogais rasgam sempre, ditos arranhados dos dentes.
A casca e o laço dado dizem tudo do caroço.
O corpo é de carne pouca, nem sei se tanto.
Disto ou doutro há cerrar o queixo,
cessar assim a raiva.
Sendo de todo o avesso do que refrata.
Não por mal, nem por outra coisa,
apenas por o ser.
A casca e o laço dado dizem tudo do caroço.
O corpo é de carne pouca, nem sei se tanto.
Disto ou doutro há cerrar o queixo,
cessar assim a raiva.
Sendo de todo o avesso do que refrata.
Não por mal, nem por outra coisa,
apenas por o ser.
***
A Primeira Manhã
O sol
-como num clichê de novela-
esperou por nós
e a sós, nascemos.
O silêncio nos foi pai
ao redor das bocas
calou-nos a sete nós
trancando um tão por
dentro d’outro
que ressoa num
a outra muda voz.
esperou por nós
e a sós, nascemos.
O silêncio nos foi pai
ao redor das bocas
calou-nos a sete nós
trancando um tão por
dentro d’outro
que ressoa num
a outra muda voz.
***
Recolheita
para André Ricardo Aguiar
A cana chora no estio do verso
e olha, onisciente,
foice e chão.
palavra cortada
putrefato, adubo, humos,
E o lavrador -que já não lavra-
talha o baixo e a cisma
lhe abandona a raiz
Flor sem talo paira
infecunda
em perpétuo desvão
A dor na palavra morta
É Saara num
grão de mar.
* * *
* * *
Jon Moreira, autor do livro Anjo Diluidor, nasceu em João Pessoa em Agosto de 1990. Graduando em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, tem alguns de seus poemas publicados em suplementos literários e blogs. Em meio ao tempo abraçou o silêncio das palavras.