5 POEMAS DE“SOL SEM IMAGEM”
De costas, Rio, 1993.*
O TOURO CEGO
O campo é estelar. Sem céu
O vento entalha esses no ar
A curva do arroio repele
o véu do orvalho caindo
Da pedra moura, com sede
o touro cego olfateia
O pasto se afasta em onda
Em espirais os ciprestes
O CORDEIRO
À noite, entre os girassóis
os olhos fixos no céu
gira o chão sob o cordeiro
Em anéis o envolve o vento
(conchas de ar têm por centro
dragas, fundos de fontes)
E ao movimento de ralo
da constelação se move
o halo dos cornos nascendo
Poeta dormindo, em Mimesis, de Auerbach, Roma, 1989.*
POETA
Ao escrever
hora a hora ante
hora a hora ante
o vazio
Ouço abrir
anéis de silêncio
onde pouso o olhar
Ocos ecoam arcos no ar
O VASO
Ao canto da parede branca
o vaso branco
a reta retém a curva ecoa
Moira, da un disegno di Boris Ender, Lavinio, 1990.*
O SONO (fragmentos)
II
Tua aura
Tua aura
expande
o espaço
Para que o infinito
possua centro
possua centro
tua nudez sonha a si mesma
III
Tua luz
dissipa
as formas
No lago de calor
sou ar acorrentado
VI
No escuro
mergulhada em água rasa
o luar de tua nuca sonha ser face
VII
Do jade que há no ar
nasce o gesto
XII
Tua aura
ecoa
no ar
Aurora no vazio
XIV
És
ouro
onde não há luz
Dormes no cristal escuro
Um fio de relva divide a transparência
XVI
É dia
No centro
da luz
raias
A luz é tua sombra
THOMAZ ALBORNOZ NEVES(Santana do Livramento, RS, 1963). Autor de Renée(1987), Sol sem imagem (1996), Exílio (2008), entre outras reuniões de poemas. Chama de esforços de leitura suas variadas traduções de versos, resultado dos anos vividos no estrangeiro. Graduado em Direito, é Mestre em Literatura. Da sua experiência no circuito profissional de golfe escreveu "Golfista" (2015, no prelo). Atualmente cria gado no Lunarejo, fronteira com o Uruguai.
* Croquis do Autor.