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Poema de Diego Fracari

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Robert Mapplethorpe, Self-portrait 


quando uma pessoa morre 


quando uma pessoa morre
que não pensam seus pares?
o caixão fecha e vão-se
todas as certezas
à boca dos vermes e das cobras
e baratas e flores
carnívoras

o sol brilha lá fora
entre as montanhas
no alto das montanhas
e, à noite, esconde-se
na eternidade do amanhã

sopra uma brisa entre os convivas
entre os convidados
uma mulher chora?
deixaste uma mãe?
cavalheiro
abotoado em teu terno
tua barriga roncará as
tuas crenças todas
na cama
ao ouvido dos que ficam

dormes um sono sem vestígios
campos repletos de papoulas ou de
nada
é o que sonhaste enquanto os ciprestes
foram chapéu de outros

hoje não sonhas
hoje o que se volatiliza no
íntimo de seu ser
são os gases com que um homem
                        morto 
 chamado Dante Alighieri descreveu o Inferno

o que fica e sempre ficará
é um relicário de sobrenomes
                    de tentativas
de beijar o imortal com graça
                   de meras vanidades
e de objetos cujo destino
         desfila
mais tempo que ti com os de cá

ouves os risos?







te enganas
as pás golpeiam junto aos pés
dos que ainda andam

que farás agora?

quando uma pessoa morre
o caixão fecha e enterram-se os anéis
e os dedos
e os atos das mãos
desfilam
como objetos pertencentes a outros, cujo destino
não dura mais tempo que o teu

que faremos agora?
em sendo que uma pessoa morre
                 e quando?

visitamos o mistério
e o honramos
dia após dia
noite após noite
e a lua consola-nos e muitas vezes
tira-nos para dançar

quando uma pessoa morre
que não pensa esta pessoa?
no seu jeito subterrâneo
tardio
inexistente
infinito de pensar



Diego Fracari é poeta e vive na cidade de São Paulo, onde cursa Letras (Português-Russo) na USP. 

Diego é meu amigo. 





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