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7 poemas de Máximo Lustosa

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Xadrez


O tabuleiro é o tempo cujos limites insinuam o infinito –
O branco sugere o preto, que sugere o branco –
Sob as patas dos cavalos, sob as bênçãos do bispado,
Em guerra, dias e noites montam uma harmonia.

Um velho movimento inicia uma velha guerra e,
Sendo finito os contendores e insuportável o silêncio eterno,
É necessário que voltem ao tabuleiro,
Que, enquanto tece a lida, os despede e os aguarda.

A infantaria cairá e com ela os cavalos, a igreja. A rainha e o reino.
Em todos os lados da eternidade,
A mão esquecida que incentivou o jogo
É a mesma mão esquecida que incentivou o jogo.





HoMeNAgeM a SÃo PAULo


EXERCÍCIO no TRAPÉZIO n.º 3

É NATURAL que ARNALDO seja CONCRETO
Como este AR é CONCRETO.
Como este RIO é CONCRETO.
E é TaMbém NATURAL que este PRÉDIO BUSQUE a CURVA
Deste RIO e o AR BUSQUE a COR deste PRÉDIO
Como um CORAL de VOZES ANÁRQUICAS
E OBEDIENTES. ESTRANGEIRAS de Dentro,
NATURAIS de FORA. INVENTANDO uma VOZ.

ADONIRAN e os PRÉDIOS que CAEM com PESSOAS deMaIs
Que LEVANTAM. CEDO. deMaIs. DepoIs do PRANTO CONCRETO
Da HORA.
É NATURAL... Os PRÉDIOS ERGAM TrejeitoS de ESTRELAs
E sejam mais DENSOS que esse AR
Que tem QUASE o gingado desse RIO – uma Malemolência às AVESSAS.

É aNtiNATURAL. A PRESSA GeNtIL.
A fé MecÂNIcA – a SÉ.
São PAULo, O Capital febrIL.
O SoM de PÓ, A LUz de coNcreTo.
O NeGRÓcIo. O MERCAdo.
TeU Rap fORRozeiro. TeU rocK serTANeJo.
TeU RodeIo cArNAVALesco. O MerCAdorMERcado
O MERCADO.

SÃO PauLO, É naTUrAL que seja COnCReTO.
Que TeU VeRde seja CoNcrETo como TeU rIo.
Como CRIOLo. DOIdO. E RiTa. RACIoNAIs.
SãO PAULO, TorCIDAs, dIsToRcIdA, lIceNcIosA.
ÚMIdA. De HoMeNs.
GeNTe PósPossÍVel. Pó.
umundo. veias coloridas tramam, tecem...
veia, veia, veia dentro da terra subterrânea, sub... subIR.

SUbIdo UM Rio CoNcRETo. De genTEM ZUMbINdo
DENsoRIodegentecorreNte, flUeNte. repeNtINdo
Rep tiNdo.
UM rIo de geNtes, coNcreto CoN cRETAs
Nas PAREDESPINTADAS PAREDESPAREDES
PAREDESTORRES.

(e no meio uma gente que crê e tenta
e se não crê, tenta, e se não tenta, tenta,
bem no meio)

VIdA dE gAdo
MisTo. Um APANHADO do MUNDO.
GrANdE AldEIA, VelHA Trrribo.

SãO PAULo é UMUNDO...

UMMUNDO.

UMMMMMMUNdo.


João-João


Quantas vezes, tua cabeça de papel na minha mão? 
Quantas vezes, joão-de-pedra, joão-de-barro, joão-de-chão? 
Chão de Sevilha, recifense de chão?
 
Chão de Itabira, Cordisburgo de chão?
 
Chão pantaneiro, do Rio e mineiro de chão?
 

Oh, João, eu não sei nada, sou só desconfiado
 
e tenho só o pecado de amar um irmão
 
- que é o próprio diabo e é são,
 
que é a própria correnteza e a mansidão.
 

Um irmão que é rio e é chão
 
que corta Minas e o corta o sertão
 
que leva a Pasárgada, que sai de tua mão
 
- e faz um barulho de trem.
 

Porque, João, é bom que se diga
 
a toda mão amiga
 
que toda flor fura o chão, que toda flor fura a vida
 
que toda flor é contramão.
 

Porque toda flor fura o céu e toda flor fura o chão.
 
Porque toda flor fura a fraqueza, a exatidão.
 

Porque, João, toda flor é um ventre e é compaixão.
 

João, João, mesmo que sejas Manoel, Carlos, Cecília,
 
o teu nome é João, que é o nome da espécie que fura o chão.
 
Mesmo que sejas Augusto, Jorge ou Raquel,
 
o teu nome é João, que é o nome da espécie que irriga o chão.
 
Mesmo que sejas Ferreira, Adélia, Gonçalves
 
és João, que é o nome dessa espécie que já é a nação.
 

És João e tua cabeça de papel será sempre servida
 
como pão, como hóstia, como prêmio, como a anunciação.
 

Porque João é o nome da flor que irriga o chão.



Tentativa de poesia moderna 1234


"A televisão matou a janela"
Era uma vez a minha televisão que estava em cima da janela,
a televisão exprodiu e matou a janela.
E agora o que eu vou fazer?
Eu não tenho nosão de comprar
outra janela, para coloca no lugar.
Eu comprei outra janela é agora o meu dinheiro acabou.
Como que eu vou pagar para coloca no lugar,
pois eu não tenho nosão
de ter dinheiro para pagar o homem para pagar pra
colocar outra no lugar.
Pois eu não vir que eu comprei a janela errada,
é agora como eu vou
comprar outra janela, pois
não tem troca, por causa
que já passou a garantia da
janela já passou.
A janela estava quebrada é
a garantia ja passou do dia
É agora?
Eu não sei o que fazer, eu
não tenho mais dinheiro.

(texto de aluna criado a partir da solicitação para que o desenvolvesse em cima da frase de Nelson Rodrigues)



Tentativa nº 4 de Poesia a duas vozes e quatros mãos


Você é linda.
Como?
Como "como"?
Como linda?
Como "como linda"?? Ora, como... como... como tudo.
 
Como cheiro, como toco, como bebo, como como.
 
Como, como, como, como...
Linda como vejo... como encosto, como aperto, como amasso, como mordo, como mastigo.
Linda como cheiro, como escuto, como ausculto...
Linda como imagino, como sinto. Como realizo.
Linda como respira, como transpira, como derrete. Como arfa.
 
Linda como suspira. Como levita. Como me inspira. Como goza.
Linda como se encaixa. Como se deixa. Como me acha. Como desliza. Como oferece, como conquista.
Linda como avança...

Você é linda.
Linda como se abre, como me cabe, como me abarca, como me inunda.
Linda como me toma, como me leva, como me doma.
Linda como... como...
Linda como suas mãos, como pés, boca, olhos, nariz, ouvidos, seios... como...
Linda como Mulher, como menina, como ser.
Linda como Presente, como vive, como modifica.
Linda como viço...

Linda como... ...
Cabelos, pelos, como gritos, como saliva...

Como orvalha, liquefica, brasa... viva...

Linda como me acende, me dobra, me amplia... me envolve, como me dissolve...
Me esvazia.
Linda como me some... soma. Soma. Soma...



Intento de poesía 1


Déjame escribirte los libros que tengo en mi. Son tuyos.
Déjame llevarte al cine.
 
Déjame caminar a tu lado en la playa, asegurar tu mano
 
Y jugar con tus perros.
 
Déjame mirarte.
 
Déjame creer en las cosas que ya creí.
 
Déjame contarte mis planes secretos para el futuro.
 
Déjame dejarte cambiarlos.
 
Déjame acercarme a ti.
 
Déjame ofrecer mis chistes infantiles para pueda verte sonriendo.
 
Déjame ofrecerte mis brazos,
 
Déjame anidarte – no lo puede ser malo eso.
Déjame aprenderte.

Mira, yo tengo un mar vivo.
Yo tengo mil historias.
Déjame regalártelas como un mimo.

!Enseñame!
 
Tengo algo para darte que tampoco lo sé por entero – pero, no puede ser malo.
 
Tiene aromas juveniles y vigor de los primeros años, tiene color de los poetas romanticistas y el fervor de una fe.



Tentativa de poesia nº1


Ele é uma pedra
E dentro dele bate uma alma
E dentro dela silencia uma pedra
Que já não é nem aquele nem aquela

Na verdade ele é a casca
Da alma fina que cobre a pedra
Que desconhece a ele e a ela
Pois dentro da pedra há uma pedra

Na verdade quem caminha pela malícia
 
seca do dia, pela miséria portentosa
das ruas são as pernas da pedra

Na verdade quem vê a formiga crucificada
Nos cruzamentos, a mendicância liberal de
Pais e Mães SA são os olhos da pedra

Na verdade quem ouve a súplica replicada
E renovada, acomodada a um texto de teatro de horrores
São os ouvidos da pedra

*

Ele é uma pedra
E dentro bate uma pedra
Que pulsa nos olhos
Nas pernas
Nos ouvidos de estátua
Numa tentativa de passar

*     *     *


Máximo Lustosaé professor de português e espanhol e mestrando em Literatura Hispano-americana. Há oito anos, mantém o blog "Ideias à deriva". Publicará, nos próximos meses, o seu primeiro livro de contos "céu baixo".


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