this must be the place
decadência era
voltar pra casa
antes do irmão
dar boa noite pros pais
engolir uma bisnaga de pão
e dizer nunca jamais
alguém me tente
papai do céu
não erro novamente.
decadência é
voltar pra casa
aqui nesta rua em que
o irmão não mora
o mundo ora
ou já dormiu
sem fome
ir deitar
quebrar a lua
de rivotril.
pétalas
a pétala
só precisa de si mesma. quedando
pétala
sobre pétalas igualmente.
nada equivoca o sentido da pétala.
os comprimidos pretos
e as luzes ofuscantes. os primeiros rascunhos
e rasuras. nada
a desmistifica tanto quanto a pétala. perguntam-me:
ela tem nome
ela tem vida
tem modus operandi
quantos minutos tem a pétala
quantas cores
quantas sílabas. perguntem à pétala
e não esperem resposta. a pétala
não tem dentes nem sentidos
e sob as pálpebras há apenas pétala. a incontestável
pétala. nunca insegura. reforçando
algum fenômeno escarlate.
nos meus olhos. no meu cisto. a pétala perdendo sutilmente
a atmosfera de flor. invisível.
no espelho infinito das irmãs: sempre
segura. inequívoca. única.
e pétala.
tiranossauro
a história é assim:
quando acorda no filme de terror
o sonho termina
você acorda
o filme de terror ainda está lá
você acorda
o sonho termina quando
o filme de terror no sonho
acorda você
o sonho ainda está lá
o filme de terror é assim
você termina
* * *
Autor do livro Elevador (Patuá, 2014), Gabriel Resende Santosé mallarmago e nasceu no Rio de Janeiro em maio de 1994. Acredita em Rimbaud e Whitman, mesmo sem assumir religião. Já apareceu em antologias e revistas, mas ninguém o reconhece na rua por isso. Escreve no blog Occam, big bangs & outras explosões. Traduz de vez em quando.