Eu não te amo. Mas. Caminho pelo Centro. Parte toda. Da cidade que não conheço.
Entre três ou quatro memórias. Sempre. Cinco memórias.
Corpo tua voz.
Começo da tarde. Fim da manhã.
Dois mendigos sorriem. Gritam. Não entendo. Sorriem novamente. Não entendo novamente. Sou um homem que não entende. Novamente. Sorriem dois mendigos. Gritam. Não entendo.
Desistem. Meu pai desistiu de mim quando já bem criança. Meu avô era um homem.
Eu não. Caminho. Fim da manhã. Seis memórias. Ou sete. Quando acordado há o álcool. E o caminhar. Valium. No começo da tarde.
Há sol. Goyastadt é um espaço do sol.
Astro feminino.
Dois mendigos. Desistem. Eu desisti quando A. voltou. Quando o sol. Mulher e forte. Grasnou em uma língua feita. Do fogo. Quando não há. Nada. Que o corpo tua voz não possua.
Sou um homem. Sou tua mulher.
Mas. Caminho pelo Centro. Oito memórias. Sessenta e oito memórias.
Havia uma ferragista naquela esquina. Onde é pó. E o sol. Reverbera:
Sou tua mulher.
Reverbera. Sempre quando é o tempo do sonho.
Dois mendigos sorriem. Sorrio de volta. Mendigos não desistem.
“Haben Sie kleines Geld?”
Dou um cigarro. Acendo o meu. Acendo o dele.
“Conhece a piada do açougueiro que deixou um bigode para ficar parecido com o Himmler?”, ele diz.
“Não”, respondo.
“Ele chegou em casa e a mulher disparou morrendo de rir: Você está a cara do Vicente Fernández, o mariachi!... É só uma piada! Mas poderia ser o Gênesis dessa merda toda. Você não acha?”
Não desistem, penso.
Sinto um cheiro a Dresden. Amor-fósforo.
Desapareço. Corro. Olho com medo.
Tenho medo dos mendigos. Do Centro.
Tenho medo. Esse amor. Preso na pele.
Ferida no canto da noite. Cânone aberto.
Parte pai. Parte mãe. Parte coisa que.
Parte nunca quando se espera o sono.
Quando se espera um ponto e um olho na.
Quando. Morremos à mesa de um bar e não há ninguém que possa pagar a conta de uma vida toda sem.
Minhas costas queimam. Há uma parte tua que teima em ser minha, A.
Mesmo hoje. Mesmo sempre.
Flos
fleur
flor
flower
flur
flowre
fror
fiaur
fiore
floare.
Chamo-te de todos os nomes. De todas as flores.
Chamo-te,
as ondas quebram.
***
*trecho de “Goyastadt”.
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