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5 poemas de Simone Teodoro

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Sobre arder


Eu sei
Ousei flertar com claridades
Mas sou filha do breu
E agora me recolho
Barroca e contorcida

(Minhas frágeis asas de cera...)

E ela era um verão
Inteiro em minha cama
Ardendo


  
Não era


Não era vento:
Era ser forte
Era ser fraco
E, às vezes, sem rumo.

Não era chama:
Era um gosto na língua
Era umidade entre as pernas
Era angústia de amar.

Não era outono:
Era a superfície da pele
Alcatifada por rugas.

Não era um trilho de trem
Uma estação ferroviária
Um aeroporto
Nem mesmo o mar
Com um barco distante:
Era a vida que restava
Acorrentada à ausência.

Não era chuva:
Era tristeza pura.
E só.







No inverno


Teu perfume dói à maneira de violinos
Desejos de minha boca bêbada:
Sorver o vinho de teus lábios e língua
Tua umidade
Dançar demente em teu corpo etéreo
E, diluída, desmaiar sobre ti.



Jardinagem I


A cor roxa
Engole a clorofila

Coração-Magoado
É o nome de uma planta.
(O arbusto toca o chão,
é puro peso)

Folhas verdes também têm
hematomas.

A Dormideira se recolhe
À ameaça do meu toque.

(Ramos e ramos
carregados de pavor)

Folhas verdes também
 gelam de medo.

Me deito
Sobre o sumo
Desses caules decepados.

Permanecerei aqui
Imóvel.

A música explosiva
Das Flores- de- Trombeta.



Profanação na teia


Tirar a roupa dela
enquanto vermelha lua arde.

Romper cascas, desfiar casulos.

Contrair-me em
aracnídeo inseto

Patas e pelos, perfurar
a pele profanada

E ela se contorce toda
presa em minha teia:
Era pétala amputada
Tornou-se flor inteira.


Ilustrações: deviantART



Simone Teodoro nasceu em Belo Horizonte em 1981. Lê poesia vorazmente. Distraídas Astronautas ( Patuá, 2014)é seu livro de estreia.




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