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Poesia Dedicada - Daniel Garcia

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Ilustração: Eliseu Visconti


Ao tempo da infância
  
O amolador de facas está nas entranhas de minha memória! Não o tiro de lá! Ele só sai quando de forma anacrônica ainda ouço um! Seu apito peculiar fura minhas tripas (que estão entrelaçadas com os livros da Bíblia) e me leva lá, lá naquele lugar de amor e carinho, lá pra minha infância!

Mesmo que eu tivesse passado minha infância em um momento de guerra e tivesse jogado futebol com a cabeça de um cadáver, mesmo essa infância seria o meu lugar. A inocência só vê jogo, futebol e bola.

O mesmo nós não fazemos hoje com as cabeças dos profetas, de Sócrates, Platão e Aristóteles? A ignorância só vê jogo, futebol e bola.

Mas, as melhores rolhas veem não das cascas virgens dos sombreiros da Península Ibérica, mas sim das que se renovam de nove em nove, da terceira geração em diante! E são somente as rolhas provenientes dessas cascas que não estragam o vinho! 


A Francisco B. de Hollanda e a Rafael F.C.

Meu amor é meu, eu sou dele! Possuo quem me possui! Somos submissos um ao outro!

Quando ele chega, sempre abro a porta! Ele tem as chaves, mas sempre abro! Ele entra e me olha! Está frio, seu olhar me aquece! Entendo tudo, sempre, ele tem as chaves! Ele me conduz! Sua respiração ofegante é como tambores festejando a chegada de algo bom, seu coração respira sangue! Ele esfrega seu rosto em mim! Ele geme, parece sentir dor, tudo é só saudade! Seu gemido é avassaladoramente encantador e sua dor é a dor de viver, dor que ele precisa! Nesse momento eu agradeço a cada célula de meu corpo por estar viva! Ele me espreme, seus braços e suas pernas me comprimem toda! Fico quase sem fôlego e nesse momento recebo seu olhar brilhante, seu sorriso, seus beijos leves, toda sua força! Ele me aperta novamente, segura minha cabeça, e eu evaporo. Ele me absorve me cheirando! Ele me aperta tanto que quase perco o fôlego, novamente. É quando sinto suas mãos pelos meus cabelos, e derreto! Escapo por entre seus dedos, toda líquida! Derreto! Evaporo! Ele demora! Ele termina, ele chora!
Meu amor é meu, eu sou dele! Eu o possuo, ele me possui! Somos submissos um ao outro!



Daniel Garciaé graduado pela Universidade de São Paulo do curso da FFLCH na habilitação Português / Inglês.  Licenciado pela Universidade de São Paulo do curso da FEUSP na habilitação Português / Inglês. Possui grande interesse pela literatura, em especial por poesia brasileira, inglesa, norte americana e latino americana. É leitor de contos e ensaios.  Apresentou, no Borges Center, seu projeto Hipertextualidade em Borges www.hipertextualidadeemborges.com.br no simpósio “The Place of Letters: The World in Borges”, na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos.É autor do livro Poesia Dedicada, publicado pela Editora Patuá.


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