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3 poemas de Samantha Beduschi Santana

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Sins e sens da relatividade blue-rouge


hoje não sou
estou aqui
sem soul
fui
serei
ou era
azul
o dia ruge
mal-estares

amanhã
sem sol
ex-eu
de agora
não fui lá antes
estarei sendo blue
em olhares... o dia foge

ontem não fui
a lugares sem sal
aluguei uma lounge sem som
e estacionei sensações
na garagem

hoje estou
sem sins
ontem
não estive bem
amanhã será cem sins
eu serei o verbo
ser
conjugado
em
rouge







Outonal


a polpa escorre
da carne crua da noite,
impreterivelmente selvagem e escura,
em um tapete de estrelas

sangram sigilos as horas invisíveis
em nuances de céus de maio
abril e março:
vermelhos sangrados puros
em terra fria

desfalece a manhã
em sorvidas súplicas,
anoitece no púlpito sagrado
do peito ausente do tempo

a manhã desmaia maçãs
em cálices explícitos:
sumo, suplício
sementes ao vento

romã madura
amanhece
no azul translúcido
em mil imagens,
loucura rosa e anil;
corpo-paisagem

a noite jura que
amanhã sai o sol

beijo o céu de outono,
saio só
em carne nua








Devir

esqueço das várias que fui aos poucos, 
o devir vem brutalmente 
sem nitidez 
rasgando os espectros entorpecentes 
das possibilidades 
do infinito

sinto meu corpo desvanecer e reintegrar-se,
e lembro que 
o espaço 
é só uma questão de tempo,
um detalhe...
minha mente 
existe

já imaginei que pudesse brincar com os anjos, 
e tocar a placidez dos planetas 
com um sorriso,
e trazer a luz de um metal precioso 
nos gametas,
e declamar um poema incandescente 
com um só beijo ,
como um tapa na cara
da morte 
e nos relógios atômicos que desenham as linhas
da nossa humana
imperfeição

houve um tempo que 
acreditei na indecência 
do céu e das estrelas,
com tantas constelações 
não poderia haver tanta 
solidão e violência

desvencilhei-me de amarras 
e armadilhas,
escalei um poço escuro arrebentando as vísceras
do tempo
e deixando seus pedaços pelas pedras escorregadias;
não tive medo do desfalecimento 
do ser,
solucei de saber-me só em trilhas 
que eu pensava que só eu conhecia

reli linhas escritas
displicentemente largadas no lodo, 
como se valessem todos 
os nadas,
como cartas indesejáveis sem destinatários
pelas horas infatigáveis que impõem 
o seu próprio fim

temi perder meus pensamentos que fugiam,
não os tinha seguros
quando eu tinha pensamentos demais

enamorei-me da paz do silêncio
que mostra nuances invisíveis
do impossível,
enquanto decifrava imagens em mim 
indecifráveis;
vasculhava meu coração e sangrava 
aquela coragem absurda 
de acreditar 
e de sentir-se 
completamente só...

sentir é um pequeno momento 
de lucidez,
amar é sorver-se e reencontrar-se
no caos de ser várias
ao mesmo tempo,
de sermos nós
no tempo que há

minha mente aindaresiste
ao nada;
meu coração ainda resiste
ao infinito



 Poemas: Samantha Beduschi Santana 
 Fotos: Arquivo da autora

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