mesmo assim — dizes
mesmo sobre a geladeira
aquela poeira no vácuo
oco pote fosco
imensidão de ceia
em que vive o impossível
onírico ogro
fantasma sem socorro
mesmo sobre a geladeira
aquela poeira no vácuo
oco pote fosco
imensidão de ceia
em que vive o impossível
onírico ogro
fantasma sem socorro
mesmo assim — dizes
o amor tem sua fome
sonho seda seguro
êxtase de orgulho
lugar lasso e profundo
traga tudo que é futuro
fumos de ópio puro.
o amor tem sua fome
sonho seda seguro
êxtase de orgulho
lugar lasso e profundo
traga tudo que é futuro
fumos de ópio puro.
mesmo assim — dizes
ainda se salva a palavra
mar que cala entre os dentes
soçobrando a alma
enregelando a sala
e repetindo na pedra
a sentença bela da fome
de tudo que seja
sal, sargaço e ostra
concha solta
repetindo infinita
ópio de tudo
ópio puro
ainda se salva a palavra
mar que cala entre os dentes
soçobrando a alma
enregelando a sala
e repetindo na pedra
a sentença bela da fome
de tudo que seja
sal, sargaço e ostra
concha solta
repetindo infinita
ópio de tudo
ópio puro
o amor tem sua fome
mesmo assim — dizes
só daquilo qualquer
que se ame.
só daquilo qualquer
que se ame.
Foto: Michael Bussell
* * *
Roberto Dutra Jr. é um neurótico social como todo brasileiro de cidade grande. Adora literatura, mas as palavras não fazem mais sentido. Mestre em Letras, tem um livro publicado e diversos artigos de caráter acadêmico e crítico publicados. Foi editor de revista acadêmica, contribuiu para jornais e revistas literárias no Rio de Janeiro e tem um seríssimo flerte com a música. Adora gatos e poemas, que movem-se na penumbra e nunca revelam-se inteiramente. Leia mais textos do autor aqui.