O que é que salva você?
Ainda uma conversa entre um casal. Liamos juntas, eu e elas. A fera na Selva. Henry James. Ele também defende que há forma além do conteúdo. Que a forma diz tanto quanto o conteúdo. Que sem a forma alguns conteúdos se perdem. Dizem que existe o ético da fala. Creio, em sua companhia, o estético. O estético que vise o ético e tente supor, para gerar boas fantasias, que a coisa-dita e a coisa-ouvida encontrem-se no mesmo discurso. Sendo da mesma procedência.
Ao tentar responder o que o salva da mediocridade mundana, da possibilidade de não ser absorvido pela multidão, a personagem sugere que desvendará uma verdade. Verdade esta que, quando dela nos aproximamos como leitores, torna-se difícil aos olhos. Parece que o que nos salva é difícil de ver. As letras começam a se tornar cinzas juntamente com o papel. Entramos na espera deles, desejamos saber o que os salva para nos salvar também. Olhamos para frente. Esperamos. Saímos ilesos da vida esquecida. Olhamos para o futuro. Foco! Precisamos de foco ou não conseguiremos sequer distinguir as letras da forma-escrita. Ela também aguarda, faz da sua verdade a espera da verdade dele.
A Fera é suposta na espreita. Desejamos, como exibicionistas, feras na posição de ataque (deixamos vestígios). Ela observa, a fera os ronda e não ataca. Há vidas sem feras. Há vidas na espera de que uma fera apareça. Ao ver uma fera, por pura identificação, posso desprender a minha antes amordaçada. Mas há fera nele. Há espera. Pela fera. É preciso que haja fera. Há espera. Pelo momento certo em que ela aparecerá e será ou morta por ele ou a própria assassina. Um minuto a mais. A máscara da dissimulação não cobre o olhar do buraco dos olhos. Não houve fera.
Foi uma espera vã? Ou foi a espera?
A mão já não tinha os mesmos traços, o rosto é irreconhecível, o corpo perde a rigidez. Espere! A pele tão branca quanto a cera denuncia os escritos de suas histórias. As rugas escreveram seus corpos.
Aconteceu. O mundo havia acontecido. Em outro lugar. O fracasso se deu com precisão absoluta. A letra torna-se branca. Sem graça como o branco. A página, todavia, é tomada por um luto. Empretece.
Fechamos os olhos.