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Poslúdio - Benzaiten (por paulo guicheney)

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“In dämmrigen Grüften/ Träumte ich lang/ Von deinen Bäumen und blauen Lüften,/ Von deinen Duft und Vogelgesang.”
Herman Hesse



No Japão antigo um dragão habitava o mais profundo mar. Triste e sozinho, a besta sem nome abalava do escuro fundo apenas para despedaçar as crianças das vilas litorâneas. A carne doce dos pequenos fazia suas vísceras se  retorcerem de gozo.

Dor tornara-se o nome dos pais. Nada habitava os corações dos que perderam seus filhos.

Benzaiten, a deusa que tudo vê, apiedou-se do monstro e decidiu encontrá-lo. “Ele não sabe o que é o amor”, ela concluiu.

Desceu em direção à praia e gritou por ele. A besta, transtornando o mar, apareceu decidida a despedaçar tudo.

Benzaiten cantou.

E a cada nota, flores e verde – e um mundo inteiro com o qual o dragão nunca sonhou – o envolviam em um lento azul.

“Casa-te comigo. Serás a mais feliz das criaturas. Dar-te-ei uma prole. Desconhecerás a solidão e o escuro. Amo-te. Não percebes? Amo-te com toda minha alma. Serei tua e de ti cuidarei com todo o meu corpo. Com todo meu amor”, cantou a deusa.

Do rosto máquina caíram duas lágrimas. E o dragão subiu de mãos dadas com Benzaiten em direção ao alto céu.


A praia nunca mais chorou.



*trecho de “Homem trancado em quarto de hotel



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