“In dämmrigen Grüften/ Träumte ich lang/ Von deinen Bäumen und blauen Lüften,/ Von deinen Duft und Vogelgesang.”
Herman Hesse
No Japão antigo um dragão habitava o mais profundo mar. Triste e sozinho, a besta sem nome abalava do escuro fundo apenas para despedaçar as crianças das vilas litorâneas. A carne doce dos pequenos fazia suas vísceras se retorcerem de gozo.
Dor tornara-se o nome dos pais. Nada habitava os corações dos que perderam seus filhos.
Benzaiten, a deusa que tudo vê, apiedou-se do monstro e decidiu encontrá-lo. “Ele não sabe o que é o amor”, ela concluiu.
Desceu em direção à praia e gritou por ele. A besta, transtornando o mar, apareceu decidida a despedaçar tudo.
Benzaiten cantou.
E a cada nota, flores e verde – e um mundo inteiro com o qual o dragão nunca sonhou – o envolviam em um lento azul.
“Casa-te comigo. Serás a mais feliz das criaturas. Dar-te-ei uma prole. Desconhecerás a solidão e o escuro. Amo-te. Não percebes? Amo-te com toda minha alma. Serei tua e de ti cuidarei com todo o meu corpo. Com todo meu amor”, cantou a deusa.
Do rosto máquina caíram duas lágrimas. E o dragão subiu de mãos dadas com Benzaiten em direção ao alto céu.
A praia nunca mais chorou.
*trecho de “Homem trancado em quarto de hotel”